Panorama para atrair observadores de aves para sua pousada
- Pedro Ribeiro Neto

- há 6 dias
- 9 min de leitura
Se você tem pousada em Gonçalves, provavelmente sofre com o vazio dos quartos quando o inverno termina. Os turistas parecem migrar para outras regiões e grande parte dos empreendedores precisa encarar a “baixa temporada”.
Mas e se esse cenário pudesse ser diferente? Já pensou em como a primavera na Mantiqueira pode ter um grande potencial para atrair o público apaixonado por natureza?
Essa possibilidade é real, só está escondida para a maioria das pessoas que desconhecem a biodiversidade do próprio quintal. Até o final deste artigo, você vai saber o que é preciso fazer para atrair o público que pratica o aviturismo (turismo de observação de aves) para sua hospedagem.

Conheça os perfis de viajantes que praticam observação de aves
Primeiro, entenda: existem diversos tipos de avituristas e desta vez vou apresentar o público que já é consciente desta prática.
Apenas para dar contexto, saiba que há quem priorize viajar no inverno para fotografar aves em comedouros; outros preferem viajar pelo continente (ou até pelo mundo) em busca de contemplar o maior número de espécies possível; e há quem leve a observação de aves como um estilo de vida.
Cada perfil terá suas particularidades, entretanto, eles têm algo em comum: escolhem seus destinos de acordo com a lista de espécies que podem observar. A boa notícia é que na primavera, aumentam as chances de se encontrar grande diversidade de aves.

Por exemplo, em uma caminhada de 3 horas no inverno é comum observarmos entre 20 e 30 espécies. Já na primavera, esse número chega a triplicar. No ano passado (2024), registramos 95 espécies em uma manhã, isso representa 53% do total de aves já amostradas no mesmo percurso do Espaço Kalevala.
É justamente por isso que realizamos os levantamentos da avifauna na primavera e no verão. Para termos uma amostra representativa da biodiversidade. Assim, é possível auxiliar a pousada a se desenvolver e se posicionar para o aviturismo.
Nestas estações ocorre uma movimentação migratória das aves, por ser o período reprodutivo da maioria das espécies.
Elas migram em busca de alimento, abrigo, conforto térmico e locais adequados para ter filhotes. Algumas realizam grandes excursões, como o bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus), que com apenas 23 cm de comprimento, encara uma longa travessia de 3 mil km da Amazônia até o sudeste brasileiro.
Apesar da incrível jornada do bem-te-vi-rajado, este não costuma aparecer nas listas de desejos dos observadores, por ser visto em áreas urbanas da grande São Paulo.
Diferente da tesourinha-da-mata (Phibalura flavirostris), sempre presente nas listas de “aves desejadas” pelos avituristas. E as chances de contemplar essa ave em Gonçalves aumentam na primavera e no verão.
Cito esses detalhes para mostrar que: é preciso ir além da publicação de fotos de aves nas redes sociais, se deseja atrair um público já consciente e com forte intenção na atividade.
Quais amantes da observação de aves você deseja atrair?
Para estar na rota dos observadores de aves, você vai escolher um perfil de público que deseje atender. E isso é muito importante: se deseja começar a atrair pessoas com essa afinidade, vai ter que se limitar neste começo da jornada.
Com o tempo e prática, você consegue ter propostas alinhadas à comunicação para mais de um perfil.
Despertar o interesse desses viajantes é algo que se conquista na medida em que se compreende os diferentes objetivos entre:
Aspirante, Iniciante, Entusiasta e Veterano.
Para atender um ou mais grupos de observadores, é necessário compreender os objetivos de cada, assim sua comunicação será efetiva para despertar o interesse de quem já está neste nicho.
Independente de qual for o tipo de aviturista que você se dedique na comunicação, leve em conta que estes viajantes valorizam elementos como: diversidade de espécies, de ambientes, ações voltadas à conservação, serviços e estruturas que facilitem a prática.
Dessa forma nem todas as pousadas conseguem oferecer o serviço completo para os birders, mas todas podem adotar um posicionamento que valorize a natureza e assim atrair visitantes com intenção de passarinhar na região.
O que uma pousada precisa oferecer para atrair observadores de aves?
O mínimo é ofertar café da manhã em horário diferenciado. Os observadores acostumados à atividade preferem levantar em plena madrugada para aproveitar a aurora, afinal, as aves começam a ficar mais ativas 20 minutos antes do sol nascer.
Esse tipo de serviço pode ser um desafio aos pousadeiros de Gonçalves, pela falta de mão de obra. Nesses casos, a solução é preparar uma cesta de café e entregá-la aos hóspedes passarinheiros no horário combinado, algo que pode ser feito na noite anterior.
Tal sugestão também pode ser importante para pousadas cujo grande diferencial é o café da manhã e o cliente vai querer desfrutar da experiência gastronômica que é servida apenas após às 9h, horário que a passarinhada já está acontecendo.
Se a gestão da hospedagem sabe que os observadores vão levantar cedinho para contemplar a natureza, é importante deixar preparado um leve desjejum no quarto: algumas frutas, torradas com geleias, bolos ou tortas, acompanhados de suco. Isso faz toda diferença, é um tipo de atenção especial, mostra o zelo e marca de forma positiva as memórias dos visitantes.
Isso quer dizer que os chalés que não possuem esse tipo de serviço não tem chance?
Claro que têm. O café da manhã é apenas um exemplo de como simplificar a experiência para o hospede e fortalecer boas memórias. Facilitar é sempre um diferencial.
Outra maneira de agregar valor ao atendimento direcionado ao aviturismo é oferecer condutores especializados.
Além de demonstrar que seu espaço está preparado, isso pode incentivar a comunidade a seguir esse caminho.

Existem inúmeros casos de guias observadores que no passado, eram caçadores e hoje estão à frente da conservação.
Fomentar a capacitação de condutores ambientais ultrapassa os objetivos de geração de renda, os resultados são refletidos no âmbito socioambiental.
Gestores da rede hoteleira que têm essa postura criam um elo de proteção à natureza e fomentam a cultura na região, o que favorece algo que todo observador de aves busca: áreas conservadas e identidade cultural.
Quais atrativos tornam uma pousada referência em observação de aves?
Seja para aspirantes ou veteranos, todos os perfis valorizam:
Diversidade de espécies
Diferentes ambientes
Estruturas que facilitem o acesso para a observação
Ações voltadas à conservação.
O primeiro passo é mapear as espécies que frequentam e habitam sua propriedade.

O levantamento é necessário para saber quem são, onde vivem e em que época costumam aparecer as aves que têm algum contato com a hospedagem ou em seu entorno.
Assim como, identificar as características ecológicas do ambiente. Isso ajuda a planejar experiências que podem ocorrer no espaço. E avaliar se há necessidade de planejar estruturas físicas e onde estas serão mais proveitosas.
Na Pousada Vida Verde, por exemplo, o deck onde é servido o café da manhã dá acesso às copas de árvores nativas de tapiá-mirim e camboatá, plantas que atraem aves coloridas em busca de frutos durante a primavera e o verão.
Neste caso, a estrutura não foi planejada para o aviturismo, mas funciona muito bem como uma plataforma de observação, inclusive para pessoas com dificuldade de locomoção.
Já a Clareira Cabanas, espalhou redes no subosque da floresta. Praticamente um convite aos hóspedes para ouvir os sons da mata e observar o movimento da fauna. Até macaco-sauá já fotografamos ali.
Trata-se de um investimento simples, de baixo impacto ambiental e elevado valor de experiência.
A Gorjeios da Mantiqueira também instalou redes e bancos em pontos estratégicos, para facilitar o avistamento de espécies de dossel florestal e de brejos. Todas as pessoas que conduzi no espaço elogiaram este cuidado.
Fora que os proprietários da Gorjeios têm grande senso ambiental e estão em busca de cadastrar a propriedade como Área de Soltura de Aves Silvestres (ASAS). Para tanto, realizamos um estudo completo da avifauna, documento essencial para os órgãos reguladores tomarem as melhores decisões nos momentos de solturas.
Outro exemplo que vale citar são as estruturas da Pousada Bicho do Mato: tem bancos espalhados pela trilha, há comedouros e bebedouros frequentados no inverno e uma plataforma na árvore.
Isso facilita a visão de 360° do estrato médio da floresta. Excelente para observar espécies que vivem neste habitat.
Há também o Espaço Kalevala, que possui um brejo de altitude com uma ilha de taboas. Todo mundo que adentra o taboal se encanta, seja iniciantes ou experientes.
Estes são alguns casos da região que atendem muito bem diferentes observadores de aves.
Entretanto, há outras estruturas que favorecem a atividade da fotografia de aves, como abrigos, torres e passarelas.
Os abrigos são construções discretas que se integram ao ambiente e permitem ao observador ficar no espaço por horas sem perturbar as aves. Isso facilita a fotografia ou observação de aves muito ariscas.
Já as torres e passarelas ajudam a observar espécies que se movimentam muito rápido nas copas.
Reduzir a distância entre ave e observador é uma forma de aumentar a chance de uma grande experiência.
Até onde sabemos, nenhuma propriedade em Gonçalves possui abrigos ou torres projetados especificamente para atender observadores, diferentes das regiões onde o aviturismo já é bem estabelecido.
Assim, se você tem interesse em elaborar algo do tipo, evite construir antes de entender o que realmente importa fazer em seu espaço. Se deseja ter mais informações, entre em contato para uma consultoria in loco.
Nosso olhar técnico vai te ajudar a perceber os pontos fortes e a otimizar o que já existe. Muitas vezes são pequenas ações voltadas ao manejo de ecossistemas ou infraestrutura mínima que podem agregar tanto valor ao seu espaço a ponto do hóspede sempre desejar voltar.
O que uma pousada precisa fazer para fidelizar o público da observação de aves?
Ações valem mais que mil palavras. Por isso, compreender as ameaças que existem à avifauna em seu espaço é essencial para minimizar os impactos ambientais.
O observador de aves é criterioso e percebe quando uma pousada só usa o birdwatching como marketing. Já ouvi clientes afirmarem que jamais voltariam a um hotel depois de ver uma ave sendo caçada pelo gato da propriedade.
Também, muitos evitam se hospedar em lugares com muitos vidros sem medidas adequadas para proteger as aves das colisões.
Afinal, testemunhar uma ave que colidiu com vidro é um dos traumas que você deve evitar, para que os hóspedes não associem seu espaço a um tipo de tragédia.
Colisões com vidros são quase sempre fatais. Quem ficaria bem ao bater a cabeça a 20 km/h em uma barreira maciça? Para as aves, com ossos frágeis e porosos, o impacto é devastador.
Por isso, pousadas bird-friendly sempre terão suas vidraças com técnicas anticolisão. Hoje existem diversas formas de evitar os choques e ainda manter a elegância.

Outro problema são os comedouros perto de janelas ou áreas envidraçadas. A intenção é boa (aproximar o hóspede da natureza) mas esse tipo de instalação pode elevar os riscos de colisões e estresse para as aves.
Uma alternativa é repensar o posicionamento desses comedouros, afastá-los de superfícies que refletem a paisagem e criar ambientes seguros à avifauna.
Esses são ajustes fáceis que reduzem os impactos ambientais e reafirmam os valores perante os hóspedes.
Assim, fidelizar observadores de aves requer respeito à biodiversidade e inclusão social. Se os hóspedes percebem o engajamento do empreendimento com a comunidade — como o exemplo já citado sobre capacitação de guias — além de voltarem, irão recomendar para outros birders.
Como se comunicar para atrair observadores de aves?
Cada público procura por hospedagens de maneiras diferentes.
O Estrangeiro busca por fontes próprias como agências e plataformas internacionais que atendem aos critérios do tipo de turismo que deseja realizar.
O Veterano realiza suas buscas por plataformas específicas, como Wikiaves e eBird. Este perfil está mais interessado nas espécies do que na hospedagem em si, sendo influenciado por amigos, agências ou condutores de observação de aves na hora de escolher onde se hospedar.
O Entusiasta tende a ter como centro de pesquisa o Google, Youtube e as indicações de outros praticantes. Seja por recomendações diretas ou através de grupos de Whatsapp, Facebook e perfis no Instagram.
O Iniciante e o Aspirante costumam se interessar pelo que você propõe no seu site, no Instagram, em plataformas de hospedagens (Airbnb, Booking, etc) e nas avaliações do TripAdvisor.
O formato da sua comunicação vai depender muito do público que deseja atrair para o seu espaço. Isso também deve estar de acordo com suas possibilidades.
Uma dica importante é trabalhar com o perfil com o qual você mais se identifique. Pois, apesar de ter um público-alvo principal, é muito provável que você também atinja um público secundário. Afinal, cada um dos perfis recebe influência de outro.
Se, por exemplo, você buscar se comunicar com veteranos, inevitavelmente tende a chamar atenção dos entusiastas.
Já se a sua comunicação é voltada aos iniciantes, pode também alcançar aspirantes e entusiastas.
A comunicação faz parte do plano de negócios e tem o poder de reverter o cenário de baixa temporada para alta. Mas, para isso, este setor precisa ser desenhado com estratégia, de acordo com o objetivo.
Se você deseja uma assessoria especializada para sua comunicação e elaborar um planejamento estratégico voltado ao aviturismo em seu espaço, entre em contato por Whatsapp através do botão abaixo.
Além de auxiliar pousadas a atrair observadores de aves, conduzimos a atividade na região desde 2016. Estamos certos do grande potencial para este setor, com chances de Gonçalves se tornar uma liderança no setor.
Tanto que fizemos um pequeno documentário mostrando um panorama geral do aviturismo e de como Gonçalves pode ser um dos destinos mais desejados do país pelos amantes do birdwatching.
Assista o vídeo abaixo e entenda o que está em jogo para a economia local.


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